O mercado paralelo de motos no Paraguai atrai brasileiros em busca de economia, mas o custo real pode ser alto

Halika Mercuto
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Nos últimos anos, um número crescente de brasileiros tem cruzado a fronteira em busca de alternativas mais econômicas para adquirir veículos de duas rodas. A forte disparidade de preços entre o Brasil e o Paraguai tem transformado o país vizinho em um polo atrativo para quem deseja comprar uma moto nova gastando até metade do valor cobrado em território nacional. Essa tendência vem chamando a atenção, especialmente em tempos de instabilidade econômica e aumento constante do custo de vida, onde cada centavo economizado pode fazer diferença no orçamento das famílias.

O grande atrativo dessa prática está no valor reduzido. No Paraguai, diversos modelos de motocicletas são vendidos com preços bem inferiores aos encontrados nas concessionárias brasileiras. Isso se deve a fatores como menor carga tributária, incentivos fiscais para importações e um custo logístico mais enxuto. Para o consumidor, o cenário parece tentador: adquirir um modelo moderno por um valor mais acessível e economizar de forma significativa, especialmente para uso pessoal ou mesmo profissional.

No entanto, por trás dessa aparente vantagem financeira, há uma série de riscos que precisam ser levados em consideração. A compra de motos no exterior, principalmente quando não é feita de acordo com as exigências legais brasileiras, pode configurar infração e resultar em sérias consequências. Muitas dessas motocicletas não possuem documentação regularizada para circulação no Brasil, o que torna sua condução em território nacional ilegal. Em caso de fiscalização, o veículo pode ser apreendido e o proprietário multado, além de responder por crime de descaminho.

Outro fator preocupante envolve a burocracia. Para que uma moto comprada fora do país seja legalizada e possa circular livremente no Brasil, é necessário passar por um processo de importação que inclui a emissão de documentos, pagamento de impostos e adequação às normas do Departamento Nacional de Trânsito. Esse processo pode ser caro, demorado e, muitas vezes, não compensa financeiramente quando comparado à compra de uma moto diretamente em solo brasileiro, ainda que mais cara.

Além disso, há o problema da procedência. Muitas motos comercializadas em cidades fronteiriças do Paraguai não possuem histórico claro, o que dificulta a verificação de sua origem. Alguns modelos podem ser recondicionados ou até mesmo fruto de roubo. Isso representa não apenas um risco legal, mas também um grande perigo para a segurança do condutor, já que não se pode garantir a integridade mecânica do veículo ou a originalidade de suas peças e sistemas.

Outro ponto de atenção está na ausência de garantia. A maioria das motos adquiridas de forma informal no Paraguai não conta com qualquer tipo de cobertura técnica em território brasileiro. Caso ocorra algum defeito ou necessidade de manutenção, o proprietário precisará arcar com todos os custos. Também não há suporte das montadoras ou acesso facilitado a peças originais, o que pode se transformar em uma dor de cabeça no médio e longo prazo.

É importante lembrar que a fiscalização nas fronteiras tem se intensificado. As autoridades brasileiras, em especial a Receita Federal e a Polícia Rodoviária Federal, estão atentas ao crescimento desse tipo de prática e têm ampliado as operações para coibir a entrada irregular de veículos. Isso tem levado à apreensão de motos e à aplicação de multas pesadas, frustrando as expectativas de quem buscava uma economia fácil e sem complicações.

Diante de todos esses fatores, é fundamental que o consumidor brasileiro pense duas vezes antes de realizar esse tipo de compra. Embora o preço possa ser um forte atrativo, os riscos legais, a burocracia e os possíveis prejuízos futuros devem ser cuidadosamente avaliados. Muitas vezes, o que parece ser uma oportunidade vantajosa pode se transformar em um problema sério, capaz de comprometer não apenas o bolso, mas também a tranquilidade do comprador.

Autor : Halikah Mercuto

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